Os resultados do estudo efectuado demonstram que, desde tempos remotos, as tartarugas são visitantes sistemáticos das praias e águas destas ilhas. Em São Nicolau e Santo Antão, esses animais já tiveram um importante papel em épocas difíceis, particularmente entre 1943 e 1952, período de grandes fomes e guerra. Nesses tempos, um bote vindo do alto mar erguia duas bandeiras, uma vermellha e uma branca, indicando a captura de duas tartarugas, o que era motivo de grande festa, pois representava comida para os menos favorecidos. Portanto, uma ou duas bandeiras, não importava; tinha-se que festejar a vida, um dia mais em tempos difíceis e de poucos recursos, de isolamento imposto pela Segunda Guerra Mundial.
Na actualidade, em São Vicente, Santo Antão e São Nicolau a carne de tartaruga é ainda consumida. Nas duas últimas ilhas, provavelmente isso esteja ligado a uma tradição que poderá ter sido perfilhada da combinação do difícil acesso a alimentos com a necessidade de variar uma dieta monótona baseada exclusivamente em peixe.
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Um segmento do “cordão” de tartaruga, vendido como afrodisíaco nalgumas ilhas de Cabo Verde (foto Sonia Elsy Merino) |
Aliado a esta realidade, surge no presente todo um conjunto de mitos que atribuem propriedades afrodisíacas à carne ou ao pénis dos machos, o que promove a procura do “cordão” como fonte de fortalecimento da capacidade sexual. Curiosamente, os pescadores das três ilhas concordam que, a existir algum mercado nesta região, este está estreitamente ligado à procura do efeito afrodisíaco do “nervo” e é, em grande parte, dinamizado pelos emigrantes que, desde o exterior ou quando vêm de férias, encomendam o “material”.
Destacam-se, todavia, as propriedades curativas atribuídas aos produtos de certas espécies, em tempos idos usados no tratamento da asma e contra parasitas intestinais ou da pele.
Na praia da Laginha, num ninho monitorizado pela população Mindelense ao longo de 57 dias eclodiram 88 tartaruguinhas nascidas vivas foi (foto Sandra Correia) |
Para preservar as tartarugas em Cabo Verde realiza-se, actualmente, uma forte campanha de sensibilização contra o seu consumo e comercialização, promovendo o envolvimento e o apoio das populações locais. Neste sentido, a comunidade da Cruzinha, em Santo Antão, a população de Tarrafal São Nicolau e o INDP, no Mindelo, com apoio das Câmaras Municipais das três ilhas envolvidas no estudo, desenvolveram no Verão de 2006 campanhas de protecção de praias de desova e monitorização de ninhos. Na praia da Laginha (São Vicente), um ninho com 110 ovos e 88 tartaruguinhas nascidas vivas foi monitorizado ao longo de 57 dias. Isto só foi possível com o apoio de toda a População Mindelense na protecção do ninho.